O jornalista e escritor Humberto Santos prepara para fazer o lançamento da sua primeira obra intitulada “Literacia Mediática e Informacional” – Jornalismo Essencial.

Trata-se de uma obra de investigação em que o objetivo é contribuir para que os cidadãos, “neste contexto de desordem de informação”, possam assumir uma postura crítica perante o consumo das informações, de forma a conseguirem distinguir, por um lado, o jornalismo profissional e notícias credíveis, e do outro, notícias falsas e “informação que finge ser jornalismo sério”.

Nesta entrevista, Humberto Santos fala sobre o livro em si e sobre os preparativos para o lançamento que será no dia 28 de fevereiro na Universidade Jean Piaget de Cabo Verde.

Qual o motivo que deu avanço ao livro “Literacia Mediática e Informacional – Jornalismo Essencial”?

Humberto Santos - Na verdade, não tinha intenção de escrever um livro. Estava num processo de autoaprendizagem quando, a certa altura, pensei que seria boa ideia partilhar com o público aquilo que tinha apreendido. E tomei esta decisão motivado pela convicção de que hoje, mais do nunca, todos os cidadãos precisam desenvolver habilidades necessárias para distinguir informações falsas de verdadeiras, para compreender o processo de produção de notícias e estar despertos quando as consequências do comportamento online, designadamente saber quando é ou não oportuno compartilhar uma informação.

Qual o assunto principal desta obra?

HS - O livro aborda a função e o funcionamento dos media nas sociedades democráticas liberais, os desafios que enfrentam na Era Digital, aproveitando para também falar de soluções e de ferramentas para a verificação das informações que circulam nos medias tradicionais e nas redes sociais.

Qual a importância deste livro para a prudência no consumo das notícias na Era Digital ?

HS - Creio que o mais importante que o livro ressalta é a compreensão da necessidade de se consumir as notícias de forma criteriosa, isto é, compreender que as notícias são construções humanas e não a realidade. E como construções humanas são suscetíveis a erros cometidos, na maior parte das vezes de forma inconsciente, mas outras vezes de forma consciente.

O livro ainda evidencia que esta Era, por muitos chamada de Era de pós-verdade, é também uma oportunidade para os órgãos tradicionais de comunicação social mostrarem à sociedade que a sua profissão se justifica mais do que nunca, e que ela é fundamental para garantir a verdade dos factos e desmascarar as informações falsas. Mas para isso, o jornalismo profissional precisa saber contornar a “armadilha” que esta era digital apresenta que é a rapidez e a facilidade que oferece para se publicar a toda hora e quase de forma instantânea. E pode contornar isso, por um lado, recorrendo às velhas armas do jornalismo que são: a verificação dos factos antes de as publicar, a separação dos factos das opiniões, a capacidade de ser confiável e de se responsabilizar pelo que publica.

No mundo de muita tecnologia de que forma que os órgãos de comunicação social podem contornar esta situação?

HS - Será preciso também que as redações se reorganizem, de forma a poderem fazer o seu trabalho de verificação de factos e de desmascarar as informações falsas na velocidade exigida hoje. É necessário que as redações se reorganizem para que sejam capazes de, rapidamente, aceder a informações já publicadas e usá-las, por exemplo, provar que um político tinha dito algo que agora diz não ter dito. Capaz de rapidamente comprovar se um documento é autêntico, capaz de rapidamente ter acesso a assessoria jurídica para melhor interpretar questões legais, capaz de criar gráficos e estatísticas para uma melhor compreensão das informações. Para isso as redações precisam de profissionais com outras valências para apoiarem os jornalistas na sua tarefa, designadamente de arquivistas, juristas, programadores de bases de dados, etc. os medias tradicionais terão ainda de ser capazes de ajudar os cidadãos a entenderem melhor as notícias e a certificarem da verdade dos factos, designadamente criando programas dedicados ao Fack-check, e programas dedicados a literacia mediática.

 Que objetivo quer alcançar com o lançamento desse livro?

HS - Trata-se de uma investigação cujo objetivo é contribuir para que os cidadãos, neste contexto de desordem de informação, possam assumir uma postura crítica perante o consumo de informações de forma a conseguirem distinguir, por um lado, o jornalismo profissional e notícias credíveis, e do outro, notícias falsas e informação que finge ser jornalismo sério. Hoje há muita desinformação a circular nas redes sociais, mas também em órgãos ditas de jornalismo profissional, mas que na verdade obedecem a um forte viés ideológico que os leva a manipular os factos e a fabricar notícias falsas. É preciso alguma literacia mediática para se contornar isso, porque a democracia só é saudável num ambiente de informações credíveis.

Este é seu primeiro livro publicado?

HS - Sim é o primeiro. Mas pretendo publicar ainda mais dois sobre a temática da literacia mediática: uma para desenvolver a questão dos perigos das redes sociais para jovens e adolescentes e outra sobre estratégias de ensino da literacia mediática para serem aplicadas em sala de aula.

De que forma esta estruturada esta obra?

HS - O livro está estruturado em forma de perguntas e respostas para facilitar a compreensão dos assuntos abordados por um vasto público. Foca sobretudo no jornalismo, mas alerta também para as consequências do comportamento on-line, designadamente nas redes sociais onde circula muita desinformação e as chamadas Fake News.

O termo Fake News também ganhou espaço na sua obra?

HS - A abrangência do significado do termo Fake News vai além do que a tradução ao pé da letra possa sugerir – notícias falsas, por tanto achei por bem ter um espaço que explique melhor esta questão do Fake News.

 O termo utilizado para se referir à muita coisa desde boato, rumor, manipulação, distorção, à opinião disfarçada de notícia, etc. Mas também é muito utilizado hoje como arma política contra os media e seus jornalistas e para os políticos se desculparem, isto é, se um político não concorda com uma notícia mesmo que verdadeira já vai dizendo que se trata Fake News.

Por quê é que escolheu a UniPiaget para o lançamento da sua obra?

HS - Porque, primeiro, tive a honra de ter o livro prefaciado pelo magnífico Reitor da UniPiaget, o Professor Doutor Wlodzimierz Szymaniak, que teve a amabilidade de receber o lançamento do livro nesta academia. Segundo, porque dificilmente poderia encontrar lugar melhor para a primeira publicação do livro tratando-se a Universidade Jean Piaget de uma conceituada academia em diversas áreas, designadamente do jornalismo, e com projetos ambiciosos para o ensino da literacia mediática.

Quais são as perspetivas para o dia do lançamento?

HS - As perspetivas são as melhores porque estou descobrindo agora, com os preparativos para o lançamento, que a Universidade Jean Piaget é muito organizada. Há uma equipa de jovens muito motivados e competentes a tratar dos pormenores do lançamento que me deixa bastante tranquilo. Por outro lado, tenho recebido confirmações de muitos colegas e amigos que dizem que nos vão brindar com a sua presença no ato, o que me leva a crer que a cerimónia vai ser bonita. E vamos ter surpresas também.